sexta-feira, 14 de março de 2008

ave migratória

Penso agora em avestruz.
Em ser avestruz.
Com pele, couro e penas.

E poder esconder a minha cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo.



quebra-gelo

São Paulo hoje ficou mais cinza.
Mais com jeito de geladeira de duas portas.
Freezer. Fábrica de gelos. E depósito de left-over.

São Paulo hoje ficou mais vazia.
Tanta gente sexta-feira.
E cheia de solidão.

São Paulo hoje me fez chorar.
Corpos largados na rua.
Carros parados, gente nua.
Gente-fome. Sem nome
E cheia de senão.

São Paulo hoje trancou as portas e jogou as chaves no Tietê.
Não sobrou peixe, nem mato, nem flor.
Sobrou só o meu quarto. Quieto. Oco. Só.

Ou foi meu coração?

quinta-feira, 13 de março de 2008

tem mais gambiarra-afesta domingo - dia 16!!


Domingo está chegando......

e eu, Alex Gruli, Edú Reyes, Miro Rizzo, Talita Castro e Tuca Notarnicola convidamos para mais um encontro!!

(Veja as fotos do último domingo e endereço do local no http://gambiarra.afesta.nafoto.net/)]


GAMBIARRA - A FESTA!!!!

16 de Março

Com o DJ Convidado FÁBIO OCK!!!


Aniversários de Rodrigo Bolzan e Ana Carina Linares!

Comemorando o fim da temporada da peça

ALDEOTAS!!!


Entrada: só R$ 5,00 até 23h, depois R$ 7,00.

Bjinhos e espero vcs!!!!

domingo, 9 de março de 2008

eu uso óculos, de grau

estou míope de dois olhos
meio claro, meio escuro
meio grau

embaçada a vida tá
que vira a vista
de fora
para dentro
e faz ver a lesma
vesga
que sou

estou caracól-caramujo de aro grosso
com lentes que refletem a dúvida
e mexem no meu olhar
sobre as placas das ruas
de nomes tão pequenos
e significados tão.......tão........

Cadê meus óculos???

mundo grande

"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento jornais, me exponho cruamente nas livrarias:

preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.

Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem....sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos - voltarão?

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,

entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
- Ó vida futura! nós te criaremos."

- carlos drummond de andrade -