sábado, 24 de maio de 2008

o sonho

"Como saber que amor à vida não é uma ilusão? Como saber que aquele que teme a morte não se assemelha ao homem que foi embora de casa quando jovem e não pretende voltar?....Como saber que os mortos não se arrependerão da antiga ansiedade pela vida? Aqueles que sonham com um banquete à noite talvez na manhã seguinte chorem e se lamentem. Aqueles que sonham com lamentos e choro talvez na manhã seguinte saiam para caçar. Quando sonham, não sabem que estão sonhando. No sonho, podem inclusive interpretar seus sonhos. Somento quando estão despertos é que começam a perceber que sonharam. Logo vem o grande despertar, e então descobriremos que a vida é um grande sonho. Durante todo este tempo, os tolos consideram-se despertos e pensam que sabem. Com belas discriminações, fazem distinções entre príncipes e cavalariços. Como são tolos! Confúcio e você, ambos estão sonhando. Quando eu afirmo que você está sonhando, também eu estou sonhando."

Tao O curso do rio - de Alan Watts

terça-feira, 20 de maio de 2008

enviesada

imagem: (farofa/dubem)


Hoje é dia de lua cheia.
E, nessas noites, vira tudo do avesso.
Os gatos cantam em desafino,
luzes piscam no refletor acima,
vidros quebram,
tapetes dobram,
palavras saem
e eu bato a cabeça um pouco mais
de vezes que o habitual.

Eu gosto.

Como eu gosto dos forros
dos meus casacos...

(Mesmo os furados)

domingo, 18 de maio de 2008

a árvore da vida

O sorriso não era o mesmo. Nem o dele, nem o dela.
Tinha uma lágrima escorrida entre seus óculos.
Falavam de companheirismo e família com a certeza de que isso jamais seria possível existir entre eles. E a impossibilidade de vivenciar isso tornava essa possibilidade mais presente ainda. Eles viviam de ilusões. E era assim que se amavam. No fundo, sentiam ódio um pelo outro. Ódio de si mesmo. Ódio de ver a realidade e perceber que ela era bem diferente daquilo que haviam pensado, chorado e sofrido a distância por tanto tempo. A realidade era muito mais feia e sem graça. Ela sugava todas as forças e os jogavam no lixo. A realidade era que a árvore estava seca e a televisão quebrada. E só uma praga verde resistia no canto do vaso e a garantia da tv perdida em meio às papeladas do dia-a-dia. Eram tantas coisas. Eram tantos e nada.
Tinham a certeza de que aquilo que esquentava seus corações era real. O cheiro era real, o toque, o beijo, o sexo. Era no corpo que eles se encontravam. Lá, as fantasias tornavam-se realidade e eles podiam se amar sem pedir permissão um para o outro. Sem pedir permissão para mudar o sonho que um tinha feito do outro. Na cama os sonhos eram os mesmos. E isso fazia com que eles acreditassem que tudo aquilo era possível. Todo o resto. E eles continuavam regando, dia-a-dia, suas plantas. “Um dia elas brotarão”, pensavam juntos, ou “jogaremos os vasos pela janela”.
Elas ainda não brotaram. E eles continuam sentindo solidão um ao lado do outro. E se tornando cada vez mais parecidos. E temendo. E brigando. E se amando. Como nunca dantes.

a missão impossível

Eu amo.
E por isso enlouqueço.