Ao mestre xamã:
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
..."
Álvaro de Campos (F.P.)
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
a espera
Quando você chega....
nem chá, nem música,
nem texto, nem queijos.
Quando você chega....
nem dor, nem medo,
nem mau humor sem jeito.
Quando você chega.....
Eu me dispo. E me deito.
Em silêncio.
E te amo. Quando você chega.
nem chá, nem música,
nem texto, nem queijos.
Quando você chega....
nem dor, nem medo,
nem mau humor sem jeito.
Quando você chega.....
Eu me dispo. E me deito.
Em silêncio.
E te amo. Quando você chega.
não mais que de repente....
De repente,
a palavra.
Vidros estilhaçam,
Carros derrapam
e a vida
nunca mais a mesma.
Há uma cicatriz.
De repente,
outra palavra.
Se sai-se do corpo,
se olha-se.
E vidros e carros
são agora
só perdão.
E a vida vira
outra coisa:
uma feijoada requentada
feito com muito amor.
E muito mais saborosa!
a palavra.
Vidros estilhaçam,
Carros derrapam
e a vida
nunca mais a mesma.
Há uma cicatriz.
De repente,
outra palavra.
Se sai-se do corpo,
se olha-se.
E vidros e carros
são agora
só perdão.
E a vida vira
outra coisa:
uma feijoada requentada
feito com muito amor.
E muito mais saborosa!
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