quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A BÊNÇÃO BAHIA!


BAHIA: QUALQUER COISA QUE SINTO SAUDADE.....

PORQUE O SAMBA NASCEU LÁ NA BAHIA.

A BÊNÇÃO TODOS OS SAMBISTAS DO BRASIL!

SARAVÁ!

É melhor ser alegre que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz no coração Mas pra fazer um samba com beleza É preciso um bocado de tristeza É preciso um bocado de tristeza Senão, não se faz um samba não. Senão é como amar uma mulher só linda E daí? Uma mulher tem que ter Qualquer coisa além de beleza Qualquer coisa de triste Qualquer coisa que chora Qualquer coisa que sente saudade Um molejo de amor machucado Uma beleza que vem da tristeza De se saber mulher Feita apenas para amar Para sofrer pelo seu amor E pra ser só perdão Fazer samba não é contar piada E quem faz samba assim não é de nada O bom samba é uma forma de oração Porque o samba é a tristeza que balança E a tristeza tem sempre uma esperança A tristeza tem sempre uma esperança De um dia não ser mais triste não Feito essa gente que anda por aí Brincando com a vida Cuidado, companheiro! A vida é pra valer E não se engane não, tem uma só Duas mesmo que é bom Ninguém vai me dizer que tem Sem provar muito bem provado Com certidão passada em cartório do céu E assinado embaixo: Deus E com firma reconhecida! A vida não é brincadeira, amigo A vida é arte do encontro Embora haja tanto desencontro pela vida Há sempre uma mulher à sua espera Com os olhos cheios de carinho E as mãos cheias de perdão Ponha um pouco de amor na sua vida Como no seu samba Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração Eu, por exemplo, o capitão do matoVinicius de Moraes Poeta e diplomata O branco mais preto do Brasil Na linha direta de Xangô, saravá! A bênção, Senhora A maior ialorixá da Bahia Terra de Caymmi e João Gilberto A bênção, Pixinguinha Tu que choraste na flauta Todas as minhas mágoas de amor A bênção, Sinhô, a benção, Cartola A bênção, Ismael Silva Sua bênção, Heitor dos Prazeres A bênção, Nelson Cavaquinho A bênção, Geraldo Pereira A bênção, meu bom Cyro Monteiro Você, sobrinho de Nonô A bênção, Noel, sua bênção, Ary A bênção, todos os grandes Sambistas do Brasil Branco, preto, mulato Lindo como a pele macia de Oxum A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim Parceiro e amigo querido Que já viajaste tantas canções comigo E ainda há tantas por viajar A bênção, Carlinhos Lyra Parceiro cem por cento Você que une a ação ao sentimento E ao pensamento A bênção, a bênção, Baden Powell Amigo novo, parceiro novo Que fizeste este samba comigo A bênção, amigo A bênção, maestro Moacir SantosNão és um só, és tantos como O meu Brasil de todos os santos Inclusive meu São Sebastião Saravá! A bênção, que eu vou partir Eu vou ter que dizer adeus Ponha um pouco de amor numa cadência E vai ver que ninguém no mundo vence A beleza que tem um samba, não Porque o samba nasceu lá na Bahia E se hoje ele é branco na poesia Se hoje ele é branco na poesia Ele é negro demais no coração

Música: Vinícius de Moraes e Baden Powell

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Enfim, 2007: 5 x 1 ano

1 - A temporada do espetáculo 17 X Nelson no Teatro Fábrica São Paulo
Chuva, pizza e carro na enchente
Lançamento de livro
A notícia do choro
O cheiro de xixi de rato
O pessoal cor-de-rosa
Risadas
2 - A circulação do espetáculo 17XNELSON pelo interior de São Palo (Ribeirão Preto, Santos, Campinas e Sorocaba)
O cara do caminhão e a traição pela internet
O cara do caminhão e as aventuras da dupla Felipe e Luizinho
Reencontro com a terra de origem
O aparecimento do Zé de ônibus em Campinas
Os improvisos do Zé em Sorocaba
As ligações rompidas
O amor na corda bamba
A equipe da produção!
Risadas
3 - Estréia e temporada do espetáculo Camino Real no Tucarena.
A realização de um sonho
A correria da fonte
My way e os cocos rosies
O camarim explosivo
O carinho do Maia
Os desencontros e reencontros
As revelações inesperadas
A dor
A surpresa do passado
Risadas
4 - A participação na novela Amigas e Rivais
A descoberta e o medo
A carona da parceria
O encontro com a própria imagem
O caminho solitário
Risadas
5 - Entrada no CPT - Antunes Filho
O começo de uma nova etapa
O desafio esperado
O mergulho no lago escuro do inconsciente
O respiro
A dança sobre os túmulos
Shiva
O riso

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

o casamento

quando os homens ficam velhos
eles deixam de ouvir os tons agudos da voz.
quando as mulheres envelhecem
não escutam mais os graves.
Será uma lei sábia da natureza em busca da convivência harmoniosa entre os seres?
Ou uma aberração para a manutenção do estado inconsciente de se viver em sociedade?
O quê? Não ouviu? Quer que eu repita? De novo??

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

que medo que dá......

Música: Lenine
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar

domingo, 16 de dezembro de 2007

festa estranha com gente esquisita

tem gente que entra para dançar.
tem gente que entra para beber.
outras para vender, suco.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
às vezes a gente entra e sai,
outras entra com alguém
e sai com outra.
ou com alguém que era para ser outra.
tem gente que bebe e ri.
tem gente que bebe e chora.
na calada noite paulistana,
ao som de caixas de som estouradas,
piso molhado e bigodes apertados,
entre doses e pessoas esquisitas,
a gente desce escadas,
rompe conceitos,
e olha...e olha....e dança...e dança........
porque tesão é igual vontade de comer doce: vem do nada!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

a pena que voa

Qual o verdadeiro espaço entre amar e ser amada. Entre o olhar e o toque de mão? Entre decidir e se deixar ir. Entre sentir e deixar de sentir. O toque do telefone e o encontro direto. Entre um e todos. É como o intervalo-espaço entre a mão e a pena que voa no ar. Se a pluma estiver ligada ao braço por um fio visível, o vôo perde a graça e o encanto dos movimentos se acaba....Tem que existir a ilusão, o silêncio e o segredo. O espaço-incógnita.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Notícia Ual - 1: O retorno dos aliens !


Notícia Ual:
"Na Coréia do Sul, cientistas apresentam gatos clonados que possuem RFP (proteína vermelha fluorescente); gatos brilham no escuro quando expostos à luz ultravioleta."
Notícia Ual em 2030:
"Compre cápsulas RFP e tenha uma trepada mais alienada!"
Na falta de luz na sua vida: coma proteína!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

The Police


75 mil pessoas no Maracanã.
70 mil só para "festa".
Quem é esse tal de Sting baby-look?
era a pergunta que não queria calar na trave do Flamengo.
So lonely......
eu e mais os 4.999 que cantavam em coro relembrando os idos 80s. mas valew. Pelo menos o telão era em alta definição e o gramado forrado de borracha. Dava até para ver o suor do pescoço e beber pinga em mangueira de gasolina.

carta-suícídio de Tom Jobim

Lixo na areia.
Guarda-sol empuleirado.
Funk no carro de som
e queijo na grelha.
Ipanema.
Chuveiro público com fila.
Futebol na beira da água.
Bisxcoitos globo na orelha
e produtores falsificados.
Que pena.

Onde andam as moças de corpo dourado e cheias de graça?
E os rapazes que se engraçam a caminho do mar?

Ah.....porque tudo é tão triste.
A beleza que não é só minha.
Já não passa.
Está sozinha.
Sem graça.

E fica mais triste pela falta de amor.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Relação versus Informação

Tem gente que acredita na informação.
Eu acredito na relação.
Entre:

pessoas
coisas
idéias
cenas
pensamentos
questionamentos
sentimentos
lugares
chegadas e saídas
despedidas e reencontros
dúvidas e apontamentos
segredos
alimentos
vômitos
vinho e cerveja
frutas
legumes
e sorvete de cereja
Chuva gelada
Olhares trocados
Risadas com lágrimas
Piadas
Música que dança
Livro que te lança
Bola jogada
Pintura na parede
cartas trocadas
Conversa fiada

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

As reticências do amar


Imagem:
O beijo - Gustav Klimt


A - Eu te amo.
B - Não.
A - O quê?
B - Não sei.
A - O quê?
B - Se ama.
A - Quem?
B - Eu.
A - Me ama?
B - Se amo....

A - Então...
B - Não sei.
A - Eu?
B - É. Você.
A - Se amo....
B - É...sei.
A - E você?
B - O quê?
A - Sabe?
B - Será?
A - É.....sabe?
B - Não sei.....

re-encontram-se: message in a bottle

"Every breath you takeEvery move you makeEvery bond you breakEvery step you takeIll be watching youEvery single dayEvery word you sayEvery game you playEvery night you stayIll be watching youOh, cant you seeYou belong to meHow my poor heart achesWith every step you takeEvery move you makeEvery vow you breakEvery smile you fakeEvery claim you stakeIll be watching youSince youve gone I been lost without a traceI dream at night I can only see your faceI look around but its you I cant replaceI feel so cold and I long for your embraceI keep crying baby, baby, please...Oh, cant you seeYou belong to meHow my poor heart achesWith every breath you takeEvery move you makeEvery vow you breakEvery smile you fakeEvery claim you stakeIll be watching youEvery move you makeEvery step you takeIll be watching youIll be watching youIll be watching youIll be watching youIll be watching you..."

the police

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Multiplicação dos afetos



Na parede de um quarto de um homem,
jaz um risco de segredo de uma mulher.
As janelas permanecem fechadas.
E os cachorros latem fora.




Arte em xama

Que o fogo e o espírito dos personagens teatrais
invadam as carnes e as visículas
e que as chamas de Iansã que se acenderem
transbordem para além da representação.
O sinos sempre tocam.

domingo, 25 de novembro de 2007

Do desejo


Do desejo - de Hilda Hilst
Imagem: Pablo Picasso


"Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.

Antes, o cotidiano era um pensar alturas

Buscando Aquele Outro decantado

Surdo à minha humana ladradura.

Visgo e suor, pois nunca se faziam.

Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo

Tomas-me o corpo.

E que descanso me dás

Depois das lidas.

Sonhei penhascos

Quando havia o jardim aqui ao lado.

Pensei subidas onde não havia rastros.

Extasiada, fodo contigo

Ao invés de ganir diante do Nada."

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A realidade da experiência


Moyers: “Mas o que acontece a essa autodescoberta, no amor, quando você encontra alguém e, de súbito, sente: “eu conheço essa pessoa”, ou “eu quero conhecer essa pessoa”?
Campbell: Isso é muito misterioso. É quase como se a vida futura, que você vai viver com essa pessoa, já lhe tivesse contado isso. Eis aqui alguém com quem você vai viver aquela vida em comum.
Moyers: Não é alguma coisa que vem do interior da nossa reserva de memórias, que nós não compreendemos nem reconhecemos? Tocar uma pessoa e ser tocado por essa pessoa de um modo...
Campbell: É quase como se você tivesse reagindo em face do futuro. É aquilo que está por acontecer, falando a você. Isso tem a ver com o mistério do tempo e com a transcendência do tempo. Mas eu penso que estamos tocando, aqui, num mistério profundo.
Moyers: Em sua vida, você simplesmente deixa isso aí, como um mistério? Ou você acha que é possível ter ao mesmo tempo, ambos bem-sucedidos, um casamento e uma outra relação que não o casamento?
Campbell: Tecnicamente, a resposta seria: “Bem, sim; é claro”.
Moyers: Mas parece que aquilo que alguém dedica ao caso amoroso é extraído da relação matrimonial e compromete a lealdade dessa relação.
Campbell: Acho que cada um deve lidar com essas coisas por si mesmo. Pode ser que aconteça uma grande paixão, depois que você tenha contraído matrimônio, e uma paixão tal que não dar livre curso a ela poderia.....como dizê-lo?....embotar toda a experiência da vitalidade do amor.
Moyers: Acho que esse é o âmago da questão. Se os olhos são os espiões do coração e revivem aquilo que o coração apaixonadamente deseja, será que o coração vai desejar apenas uma vez?
Campbell: Deixe-me dizer-lhe que o amor não imuniza a pessoa no tocante a outras relações. Mas que alguém possa ter um caso amoroso pleno – repito, um caso amoroso pleno.... – e ao mesmo tempo manter-se leal ao matrimônio, bem, não creio que isso chegue a acontecer.
Moyers: Por quê?
Campbell: A coisa se romperia. Mas a lealdade não o proíbe de ter uma relação afetuosa, até amorosa, com outra pessoa do sexo oposto. A maneira como as novelas de cavalaria descrevem a ternura das relações com outras mulheres, por parte daquele que se mantém leal ao seu amor, é muito encantadora e cheia de sensibilidade.
Moyers: Os trovadores cantariam para suas damas, ainda que houvesse escassas esperanças de virem a entreter uma relação com elas.

(Trecho do livro O Poder do Mito, "conversação" entre Joseph Campbell (1904-1987), um dos maiores estudiosos de mitologia, e o jornalista Bill Moyers)

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Arte de viver só

egon schiele

Ela estava só
no noite tarde e fria.
Não havia ninguém na casa. Há muito tempo.
Mas no seu silêncio,
era uma multidão que gritava:
- Vai! Vai! Vai pro mundo!!
- Que mundo?
- Esse aí, não tá vendo?
- Não.....tá tudo tão longe, tão difícil.....
- Não..tá tudo tão perto, tão dentro...................de vc.
Ela abriu as pernas, respirou e foi.
Inteira. De uma vez só.
Sem vontade de voltar.



quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O Labirinto


Outro dia, vasculhando o mundo dos "yakults", deparei-me com a página da Isabella Lotuffo, uma amiga de infância do interior, fada fantasiada de gente, poeta e desenhista, e encontrei esse texto de sua autoria. Através da poesia, ela dialoga sobre o caos que reside dentro de nossas almas. Caos que tentamos evitar no dia-a-dia. Caos que tentamos encontrar a saída. Caos que nos leva a encontrar o pan-panico da vida. E celebrar.
Fica aqui a saudade:


O Labirinto é um lugar escuro, misterioso e místico.
Sao dezenas de voltas, paredes, concretos, ondulações.
A matemática é metafísica, o devaneio se expande em progressão aritmética.
O som é fantasmagórico e o grito nunca é silenciado: ele voa ressonante raios de quilômetros e volta ao Labirinto no eco distante da manhã.
O Labirinto é a casa dos desorientados, é o limite dos fracos, é o desafio dos arquitetos e é também o motivo de superação dos fortes.
Existem certas soluções ao grande enigma: Teseu escolheu o fio de ouro da bela Ariadne, Dédalus deu asas a Ícaro, mas eu, eu enfrento o Minotauro no peito, e enfrento o Labirinto do meu jeito.
O Labirinto, meus caros, sou eu.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Arte pós-dramática


Pavor do riso


No encontro
Do corpo
Que devora e
Que se envolve e
Que derrama
De tesão
Todo o sonho
Toda a busca
Do amor de alma
Do amor de pele
De espírito
Do amor verdadeiro

Deixo passar todo medo
De penetrar
De deixar te encontrar
Alma idêntica
Que apavora na risada
E ri, e brinca, e teme
E ama

Ama o encontro
O acontecimento
O momento
De ida
De crença
De liberdade
De vir a ser
De ser

Sem regras
E sem promessas
Entramos
Deixamos
sem saber o porquê
Sem saber como
Sem saber....

Uma tira vale mais que mil palavras



quinta-feira, 15 de novembro de 2007

OBRA QUIXOTESCA


Depois de muito suor e discussão, e 3 anos de reforma, o espaço da Representação São Paulo da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) reabriu suas portas para o público e os artistas ontem à noite, dia 14 de novembro de 2007, quarta-feira, com a presença do ministro Gilberto Gil, o coordenador da nacional da Funarte, Celso Frateschi, o “guerreiro” e responsável-mor pela realização, Hélvio Tamoio, e todas as centenas de pessoas que nunca deixaram de acreditar na força de reunião e realização desse lugar.

Ao invés do chão gelado de cimento velho, da poeira e dos telhados a desabar, o que se viu ontem foram galerias de arte recheadas e bem iluminadas, salas de ensaio com piso adequado e interligadas por um corredor comum a todos e a histórica Sala Guiomar Novaes mais uma vez na ativa recebendo mais uma vez uma apresentação do projeto Pixinguinha, com o show de Paulo Padilha e Monarco.

Não foram poucas as lágrimas que rolaram.
E o coração disparado.
A realização.

Desativada e abandonada na época do governo Fernando Henrique, a Funarte São Paulo, um espaço público federal, vem passando por um processo de revitalização e reconstrução desde 2003. Lembro-me da primeira vez que entrei naquele lugar, em ruínas, e me deparei com um cara barbudo e cabeludo que falava de idéias e sonhos e planos para um campo minado (Hélvio). Louco e inconseqüente, mas com a mente lá na frente, foi conquistando adeptos, entre eles eu, para essa caminhada quixotesca. E por lá fiquei por 2 anos e meio, entre produções, reuniões, viagens e assessorias, tentando fazer com que as pessoas deixassem de ser Sanchos e Panças.

Sem apoio e sem dinheiro, e muito trabalho e articulação, conseguimos reunir cerca de 60 grupos de teatro na Funarte ao fim de um ano, que ensaiavam nos poucos espaços que tínhamos. Espaços ainda precários sim, muitas vezes até sem luz e sem porta, frios ou abafados, mas que começaram a existir a partir daí exatamente porque essas pessoas por lá ficaram e por lá criaram. E acreditaram.

Lembro-me da vontade que tínhamos de um dia ver aquele lugar tão misterioso cheio de gente como eu vi ontem....

Lembro-me das rodas de samba que fazíamos a custa de muita boa vontade dos músicos que, embaixo de chuva, vinham de longe dividir um pouco da sua vida e de seus causos com aqueles que queriam ouvir, independente das condições dadas.

Lembro-me das articulações e das viagens. Do ideal. Do início do pensamento do prêmio Miriam Muniz e da articulação para a formulação da Caravana Funarte de Circulação. Do primeiro prêmio de Dramaturgia. Dos editais do Arena.

Lembro das reuniões internas e da tentativa de mobilização de funcionários que de público já não tinham mais nada. E da conseqüente transformação de cada um deles.

Da minha transformação.

Das pessoas que conhecemos, das que só passaram, das que ficaram, das que foram, das que se falaram, das que brigaram, das que se amaram. Dos encontros e desencontros. Das trocas. Das formações e formulações.

Éramos lebres rodeadas de lobos, leões, tubarões, cobras e piranhas, prestes a destruir qualquer sinal de vida e sobrevivência.

Sobrevivemos.

Parabéns a todos que de alguma forma participaram deste processo.
Para mim, será sempre um exemplo de que acreditar é realizar sim.
Basta colocar o coração na mão e mente à frente.



FUNARTE SÃO PAULO
Al. Nothmann, 1058, Campos Elíseos CEP: 01216-001

São Paulo, SP
Tel/Fax (11) 3662-5177

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

vazio na estrada


Deixo aqui as palavras e os questionamentos de uma grande amiga jornalista e poeta, Raquel Silveira, que, enclausurada em seu dia-a-dia embaçado de notas e assessorias, abre espaço para a criação e a dúvida.
Por que o caminho só existe quando a gente passa por ele.


Vazio na estrada
Imenso questionamento
Nada vem naturalmente
Tudo é forçado, suado, sofrido
Nada alegra
Satisfaz ou anima
A espera é penosa
Mas não menos esperançosa
Nada criteriosa
Talvez por isso mais árdua
Quem sabe te encontro um dia `ó vocação´
Quem sabe você venha em forma de milagre, insight. Ou não
Virá à custa de muito trabalho e muitos erros
Por que não?
O importante é esperar e acreditar

terça-feira, 13 de novembro de 2007

CLICHÊS



Clichês.
Falsos nomes. Falsas coisas. Mundo falso.
Me sinto agora como um produto enlatado. Um produto Plus. Sur Plus.
Resultado dessa máquina fantasmagórica chamada capitalismo, que vai me roendo, me comendo pelas bordas e ao mesmo tempo por dentro. Dói o desejo do conhecimento, o desejo de ter, o desejo de querer ser. Quero não querer mais nada. Ser. Apenas. Viver com iguais. Mundo idealizado que nunca irá existir de fato.
Me vejo agora como falsa propagandista, enganando a mim mesma a não estar contaminada por este vírus. Ele já tomou minhas células desde o dia em que nasci, onde nasci. Planeta Terra peço socorro. Quero vomitar o meu corpo interno, tripas que sacodem aqui dentro pedindo socorro, alento. Quero dançar na chuva como Gene fez. Quero revolucionar, quero sair, quero ser, quero, quero, quero. Não quero mais nada. Deixa vir, deixa ser. Sou eu. Assim.
Mais nada. Alma penada.
Sou o nada que busca preenchimento. Sou cheia, mas me sinto vazia. Me sinto vazia e só. Tão duro ser solitária sozinha. Neste mundo de imagens feitas, industrializadas, falsas. De pessoas que não se olham, não se enxergam, não se amam. Pessoas que se consomem. Com somem. Sumam daqui!!! Não me venham com xurumelas dindinrescas. Não me venham com retorno financeiro. Não me venham com você precisa ter isto ou aquilo, ser isto ou aquilo, pensar isto ou aquilo. Não me venham com regras, barreiras de cimento. O camino é cinzento, triste, solitário. O camino real é mais real do que o azul que eu imaginava. Cinzento como os arranha-céus, como a cinza do cigarro, como o asfalto velho, como a conta de luz que chega em casa. Cinza como a tela do computador. Como a falsa-realidade. Como a mídia, o dinheiro e tudo o que o homem criou para se matar. Suicídio coletivo. Auschwitz capitalista. Somos todos judeus perseguidos pelo inimigo invisível. Enclausurados neste way of life fast-food.

texto escrito em 18 de janeiro de 2007.




segunda-feira, 12 de novembro de 2007

SAPA SOLITÁRIA


Flor
Que brota
Em meio ao lamaçal
Brejo de desejos
Afundam a razão
Desespero
Sapos solitários
Emitem sons que nos fazem dormir

Dorme!
Não..consigo.
Quero continuar viva.
Solitária.

domingo, 11 de novembro de 2007


Dia-a-dia


Tem dias que o mundo parece que tá correndo contra.
E tem dias que a gente é contra o mundo.
Tem dias que é tudo confuso e solitário.
E tem dias que a gente quer estar com todo mundo.
Tem dias que a gente corre atrás da luz.
E tem dias que ela brilha dentro da gente.
Tem dias que a gente faz, faz, faz e não sai do lugar.
E tem dias que a gente sai do lugar para fazer.
Tem dias que é tudo tão certo e claro.
E tem dias que ser claro não dá certo.
Tem dias que a gente sabe o que tá fazendo.
E tem dias que a gente tá fazendo sem saber que tá.

Tem dias que a gente pega trânsito, chega atrasado, briga com o síndico e dorme mal.

E tem dias que a gente dança, apenas.

Tem dias que a gente tem fome de tudo.
E tem dias que tudo dá fome.
Tem dias que a gente quer ficar sem fazer nada.
E tem dias que o nada nos leva a fazer.
Tem
dias,
dias
e dias.
E tem dias como hoje:
em que o dia é e é e é e é.
O que é.


sábado, 10 de novembro de 2007

dá-me a tua mão

Clarice Lispector
esclarece um pouco de mim:

"Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar

como entrei no inexpressivo

que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei

naquilo que existe entre o número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir

- nos interstícios da matéria primordial

está a linha de mistério e fogo

que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio."

mistério das cousas

















Em dias de rio e mato distantes,
e de pensamentos infindos presentes,
encarcerada na cidade de prata e de sol e de chuva,
pego a estrada de terra de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
para lembrar-me de que
o verbo "ser" nada "é"
além dele mesmo:

"O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As cousas não tem significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."


(Alberto Caeiro - O guardados de Rebanhos - 1911-1912)

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pret-à-Porter


Pret-à-Porter.
Pronta entrega.
Entrega pronta
para modelar
ampliar
as contradições
pulsações, sensações,
pressentimentos do que é
não dito
não feito.
Olhar, coração.
Relação
curta.
Curta o circuito curto.
Curto-circuito.
Circular, pronto.
Entregue.

terça-feira, 6 de novembro de 2007


Ilusão ou Realidade?


Sinto cócegas nos dedos, nas mãos, nos braços, no pescoço. Cócegas na garganta. Quero gritar e a imobilidade me rói por dentro.
Outro dia ouvi uma música de infância que dizia que a pequena menina vivia dois mundos diferentes: o de fora, da realidade, e o de dentro, da ilusão. Os meus são como os dela. Se fundem e, quando isto ocorre, me confundem.

O que é realidade?
Acordar cedo, ir para o emprego, confiar na promessa de que “este caminho vai te levar para o sucesso” e na tão esperada carreira?
Ou esta sensibilidade que sentimos quando estamos diante de um abismo de que a vida literalmente está por um fio. E que, se esta corda arrebentar, sua vida já era. Ou melhor, recomeça. Ou termina.
Qual a certeza que temos de estarmos vivos? Qual a certeza que teremos quando estivermos mortos?
Quando eu escrevo, essas certezas incertas se confundem com a ilusão do lado de dentro e se transformam na minha realidade de fora. Na realidade construída a partir da minha ilusão. Ou na minha ilusão fantasiada de realidade. Como as almas penadas que rondam a noite em busca de algum contato com a realidade. Ou a gente que em corpo corpóreo busca contato com o etéreo. Buscas que na realidade não tem significado, mas que confortam as desilusões da alma. Escrever conforta a minha alma. Acalma meu espírito e traz significado para cada fração de existência real.
Cada letra em conjunção com outra se funde em constelação de idéias como o cardume que passa ao lado no rio em busca de alimento. O cardume desliza sobre as algas e desvia das pedras. De olhos atentos e com movimentos precisos. Eu deslizo sobre a folha branca e me desvios dos brancos. Navego com palavras em busca do alto-mar. Das ondas altas, dos perigos da madrugada, dos tubarões famintos que devoram golfinhos. Sou peixe fora d’água em busca da margem do rio contínuo, límpido, fresco.
Sem contaminações. Sem borrões. Folhas repletas de incertezas ilusórias. Páginas cheias de questionamentos. Pontos que se interrogam e se exclamam. Eu me exclamo. E me pergunto:

tudo isso para quê?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

HOMO-PERDIDO



Como pode um homem ser aquilo que deseja ser,
se ele já não o é a princípio?
É como querer chegar sem sair.
Ou como sair sem ter para onde ir.
É homo-perdido. Sem sentido.
É vida jogada fora.
Sem ser para se jogar.
É desperdício de tempo.
De vida.
De palavras.
Deste papel.

Quando se chega onde se pretendia há muito tempo sempre surge uma sensação de que algo está faltando....pois nunca se quer chegar....para não ter mais para onde ir.

O que se quer é ir mais além

...e não parar....

É buscar.

Ainda mais.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Arte de inventar

"Quem pensa o oposto de mim não me aborrece, nem me irrita: ao contrário, me estimula e me exercita" - Montaigne em Ensaios.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

SAPHO

Deixo aqui um pouco da poesia de Roberta Ferraz. Escritora jovem, paulista, escorpiana, voraz, líquida e mortal. Recomendo a descoberta.


O meu amor, quando é amor
é excesso.
E morre.

Um pé sobre o penhasco
abaixo, todo o mar
centrípeto,

sua sombra, volume
de pender o fundo,
vermelhidão e escolha.

Expande o delírio
feminino
ininterrupto
o mar de suas mulheres
seus ramos do escuro.

Entre o lábio e a sola,
a precisão do penhasco:
raja os amores
o sexo
o manto,

meu amor, quando é amor
é excesso.
E morre.

pequeno pássaro

“Tenho mais medo da solidão do que da morte”,
dizia Piaf.
eu digo,
"Com a morte eu perco o medo da solidão".

domingo, 28 de outubro de 2007

tele-visão

Tudo parece quieto agora.
Não há mais televisão.
Nem som.
Nem barulho de talheres.
Nem fogaréu de chá.
Nem conversa no quarto ao lado.
Nem criança gritando no pátio.
Ouço o silêncio.
E vejo os talheres sobre a mesa de chá à espera de mim, ao quarto ao lado, conversando sobre crianças.
Parece televisão.
Visão.

GRITO

Eu ouvi um grito quando entrei
Olhei de novo
E nada
Andei, virei.
Ouvi um grito, de novo.
Olhei quando entrei.
E nada.
O grito tava dentro de mim.

desejo inconsciente


Telepatia: (s.f.) Transmissão de pensamentos ou de quaisquer impressões de uma pessoa a outra, fora de qualquer via sensorial conhecida.

Telepático: (adj.) Relativo a ou transmitido por telepatia.

Blog Telepática: vontade de expressar e transmitir idéias, impressões e sensações de maneira diversa e particular. Maneira minha. Maneira de um ser que busca entender as motivações da vida e os caminhos que dela surgem à nossa frente. Vontade de compartilhar. Dividir. Trocar.
E se questionar, sempre.

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida", já dizia mestre-poeta Vinícius. Vamos nos encontrar.
Ou desencontrar.
Como o samba. O branco mais preto do Brasil.

Saravá!

Sejam bem-vindos!