sábado, 21 de novembro de 2015

a casa-guardada e a ventania.

 
E tinha um monte de poeira acumulada no trilho da porta.
Ela tentava abrir com as forças que restavam.
Mas os besouros pareciam brincar com suas vontades.
Era a vontade de ver com a vontade de matar.
Os besouros, que atrapalhavam seu caminho.

E tinha um cheiro de mofo guardado lá, há tempos.
Ela abria as portas. Mas o vento do campo não vencia o medo dentro dela.
Era uma vontade de ver o passado com o desejo de pintar a casa.
Precisava consertar as telhas, as portas e as janelas que davam para o futuro.

E tinha estantes vazias e quadros roubados.
Tinha teia de aranha na tábua de pães.
E uma toalha cozida e guardada no fundo do armário
que tinha sido feita em tempo de noivado.

Olhou tudo. Abriu tudo.
E respirou fundo aquele ar de novo com mofo na casa.
Era tempo de mudança e de seguir em frente.
De dar rumo às coisas que pararam no tempo.

Pegou um balde de coragem,
uma vassoura mágica feita de chorões
e jogou água limpa na sala vazia e empoeirada.

Os besouros nadaram naquele dia.
E ventou, forte.

A espera.

E todas as noites ela saía vagando pelas ruas.
Nua. Só. Desavisada.
À espera de algo que a transformasse.
Ou a levasse.
Era o tempo da espera.
À espera de um amor, de um conto, de um desfazer das coisas.
Era nua que ela gostava de esperar.
Sentia assim o barulho da noite de maneira mais intensa na pele.