sexta-feira, 20 de março de 2020

a quarentena e o tempo.

O vírus invadiu o mundo e diante de mim vejo uma grande bola viral gritando: acalme-se.
Já há quatro dias em quarentena penso que talvez eu já esteja perdendo o controle do tempo. E que talvez perder o controle seja realmente muito bom. E talvez seja isso que o ser humano esteja precisando. E talvez seja isso que eu esteja.
Acordo cedo, durmo tarde, faço café todos os dias só para mim, mesmo sabendo que vai sobrar na jarra e que vou ter que jogar fora um pouco. Todos os dias. E o desperdício me incomoda.
Tenho feito comida também todos os dias, em pequenas quantidades, como se poupasse a geladeira para uma necessidade futura maior. Como se em breve a gente tivesse que aprender a viver com o que tem em casa. E só. Até acabar. Racionamento antecipado pra aprender a viver com pouco.
Hoje acordei mais leve e com vontade de ficar em reclusão. Parece contraditório isso, mas eu realmente acordei com vontade de apenas curtir a minha filha e a mim mesmo. De curtirmos esse tempo que a vida está dando para gente. Mesmo que forçado. Por que isso deveria ser louco? Curtir a si mesmo deveria ser o nosso dia sempre, não?! Pensando aqui o que podemos criar juntas. Pintar, escrever, brincar. E isso me acalma. Ela me ajuda a enxergar essa falta de controle de tempo. Esse estado de deixar acontecer naturalmente, como se fosse um pagode brega esta vida.
Ela acordou. Preciso ir. Mas volto logo. Só não prometo quando, pois agora estou fora de controle.