segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Receita de penteado.

Os cabelos femininos....
Nada de coque, à moda da vó. Os coques seguram vontades.
Nada de tranças, à la Cora. Essas trazem lembranças.
Nada de rabo, à cavalo. São eles que guardam os medos.
Nada de grampos, como nos bailes. Grampos agarram desejos.
Os cabelos devem seguir a favor dos ventos. Dos movimentos.
Para que o espírito possa correr livre entre os fios. Soltos.
Embaraçados, esvoaçantes, bagunçados, ventilados.
Livres, a balançar conforme o riso.
Selvagens.

domingo, 13 de agosto de 2017

Olhar vazio.

Era pelo brilho no olhar que ela se apaixonava.
Toda vez que via ou cruzava alguém na rua com aquele olhar ela já começava a inventar histórias, paixões e até mesmo términos. Construía toda a vida com ele em duas estações de metrô. Era assim que trabalhava seu coração machucado demais.
Às vezes, os olhares eram recíprocos e, então, o caso até esquentava. Outras vezes era puro amor platônico. E, em outras, geralmente nas madrugadas frias, ela criava até mesmo os olhares que não ocupavam os assentos vazios. Era de uma solidão do tamanho de um trilho que corria só, sem trens, sem partidas, sem chegadas. Só trilhos vazios. Ela criava o seu próprio mundo subterrâneo. Tão farta estava do mundo lá de fora. Lá de cima. Dos outros.