Embaraçam a gente.
Os ossos gritam por mais calor.
Mais amor.
Mas o casaco pesado sufoca.
Não passa ar. Não passa movimento.
Um cubo de gelo preso na forma
no fundo da geladeira.
A chuva fina que cai leva toda a promessa embora.
De uma nova primavera.
De um novo amor à primeira vista.
É impossível se apaixonar à primeira vista no inverno.
Os olhos olham só pra dentro. Esquecem como atravessar a rua.
E a angústia invade minha sessão de chá das cinco.
E chamo ela para sentar.
Faz tempo que não vinha me visitar.
Eu dou cobertor
E ponho para deitar.
Mas a campainha toca.
O vizinho chora.
A criança ri.
E o mundo continua a girar como se ainda fosse primavera.
Não fiz as unhas ainda e tenho bolo pra comprar.
Mesmo querendo só deitar.
O mundo não entende as estações do ano.
O relógio não para quando a gente chora.
E eu continuo lutando com meu casaco apertado,
Pesado,
que não deixa nada passar.
Pesado,
que não deixa nada passar.