A gente andava de olhos atentos e atados entre os fermentos.
Havia uma certa falsa segurança neles.
Como se o crescimento do bolo fosse garantido por lá.
Era só colocar, em colheres rasas e em doses medidas, que tudo estava certo de seguir como deve ser.
Mas havia dias em que a falta deles na despensa acontecia.
Dias em que o fermento estava vencido e que, por distração ou vontade, a gente se destilava um ao outro na vontade de colocar algo diferente naquele bolo. De vê-lo crescer, mais do que o normal, mesmo sabendo que depois ele poderia murchar ou até mesmo virar uma grande bola de pedra. De pensar na calda mais que o bolo. De se deliciar nas caldas.
Nesses dias, a cozinha se punha em cores diferentes e a assadeira esquentava mais que o normal.
Havia pó por todo lado e os ovos estouravam ao escapar das mãos. Era uma grande algazarra da culinária. Era uma grande festa de degustação. Não importavam as formas, os tamanhos nem os bolos.
Nos lambuzávamos.
Nos lambuzávamos.
O que estava em jogo era o assar em si. O ato de alquimia.
E esses dias são os que ficavam na memória. Os bolos queimados e desperdiçados.
Já os bolos lindos e formosos, feitos com zelo e fermento, ficavam na estante, de enfeite, esquecidos pelo tempo. Perdiam o sabor. Eram seguros. Fermentados. Enfeitados demais.