quinta-feira, 15 de novembro de 2007

OBRA QUIXOTESCA


Depois de muito suor e discussão, e 3 anos de reforma, o espaço da Representação São Paulo da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) reabriu suas portas para o público e os artistas ontem à noite, dia 14 de novembro de 2007, quarta-feira, com a presença do ministro Gilberto Gil, o coordenador da nacional da Funarte, Celso Frateschi, o “guerreiro” e responsável-mor pela realização, Hélvio Tamoio, e todas as centenas de pessoas que nunca deixaram de acreditar na força de reunião e realização desse lugar.

Ao invés do chão gelado de cimento velho, da poeira e dos telhados a desabar, o que se viu ontem foram galerias de arte recheadas e bem iluminadas, salas de ensaio com piso adequado e interligadas por um corredor comum a todos e a histórica Sala Guiomar Novaes mais uma vez na ativa recebendo mais uma vez uma apresentação do projeto Pixinguinha, com o show de Paulo Padilha e Monarco.

Não foram poucas as lágrimas que rolaram.
E o coração disparado.
A realização.

Desativada e abandonada na época do governo Fernando Henrique, a Funarte São Paulo, um espaço público federal, vem passando por um processo de revitalização e reconstrução desde 2003. Lembro-me da primeira vez que entrei naquele lugar, em ruínas, e me deparei com um cara barbudo e cabeludo que falava de idéias e sonhos e planos para um campo minado (Hélvio). Louco e inconseqüente, mas com a mente lá na frente, foi conquistando adeptos, entre eles eu, para essa caminhada quixotesca. E por lá fiquei por 2 anos e meio, entre produções, reuniões, viagens e assessorias, tentando fazer com que as pessoas deixassem de ser Sanchos e Panças.

Sem apoio e sem dinheiro, e muito trabalho e articulação, conseguimos reunir cerca de 60 grupos de teatro na Funarte ao fim de um ano, que ensaiavam nos poucos espaços que tínhamos. Espaços ainda precários sim, muitas vezes até sem luz e sem porta, frios ou abafados, mas que começaram a existir a partir daí exatamente porque essas pessoas por lá ficaram e por lá criaram. E acreditaram.

Lembro-me da vontade que tínhamos de um dia ver aquele lugar tão misterioso cheio de gente como eu vi ontem....

Lembro-me das rodas de samba que fazíamos a custa de muita boa vontade dos músicos que, embaixo de chuva, vinham de longe dividir um pouco da sua vida e de seus causos com aqueles que queriam ouvir, independente das condições dadas.

Lembro-me das articulações e das viagens. Do ideal. Do início do pensamento do prêmio Miriam Muniz e da articulação para a formulação da Caravana Funarte de Circulação. Do primeiro prêmio de Dramaturgia. Dos editais do Arena.

Lembro das reuniões internas e da tentativa de mobilização de funcionários que de público já não tinham mais nada. E da conseqüente transformação de cada um deles.

Da minha transformação.

Das pessoas que conhecemos, das que só passaram, das que ficaram, das que foram, das que se falaram, das que brigaram, das que se amaram. Dos encontros e desencontros. Das trocas. Das formações e formulações.

Éramos lebres rodeadas de lobos, leões, tubarões, cobras e piranhas, prestes a destruir qualquer sinal de vida e sobrevivência.

Sobrevivemos.

Parabéns a todos que de alguma forma participaram deste processo.
Para mim, será sempre um exemplo de que acreditar é realizar sim.
Basta colocar o coração na mão e mente à frente.



FUNARTE SÃO PAULO
Al. Nothmann, 1058, Campos Elíseos CEP: 01216-001

São Paulo, SP
Tel/Fax (11) 3662-5177

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

vazio na estrada


Deixo aqui as palavras e os questionamentos de uma grande amiga jornalista e poeta, Raquel Silveira, que, enclausurada em seu dia-a-dia embaçado de notas e assessorias, abre espaço para a criação e a dúvida.
Por que o caminho só existe quando a gente passa por ele.


Vazio na estrada
Imenso questionamento
Nada vem naturalmente
Tudo é forçado, suado, sofrido
Nada alegra
Satisfaz ou anima
A espera é penosa
Mas não menos esperançosa
Nada criteriosa
Talvez por isso mais árdua
Quem sabe te encontro um dia `ó vocação´
Quem sabe você venha em forma de milagre, insight. Ou não
Virá à custa de muito trabalho e muitos erros
Por que não?
O importante é esperar e acreditar

terça-feira, 13 de novembro de 2007

CLICHÊS



Clichês.
Falsos nomes. Falsas coisas. Mundo falso.
Me sinto agora como um produto enlatado. Um produto Plus. Sur Plus.
Resultado dessa máquina fantasmagórica chamada capitalismo, que vai me roendo, me comendo pelas bordas e ao mesmo tempo por dentro. Dói o desejo do conhecimento, o desejo de ter, o desejo de querer ser. Quero não querer mais nada. Ser. Apenas. Viver com iguais. Mundo idealizado que nunca irá existir de fato.
Me vejo agora como falsa propagandista, enganando a mim mesma a não estar contaminada por este vírus. Ele já tomou minhas células desde o dia em que nasci, onde nasci. Planeta Terra peço socorro. Quero vomitar o meu corpo interno, tripas que sacodem aqui dentro pedindo socorro, alento. Quero dançar na chuva como Gene fez. Quero revolucionar, quero sair, quero ser, quero, quero, quero. Não quero mais nada. Deixa vir, deixa ser. Sou eu. Assim.
Mais nada. Alma penada.
Sou o nada que busca preenchimento. Sou cheia, mas me sinto vazia. Me sinto vazia e só. Tão duro ser solitária sozinha. Neste mundo de imagens feitas, industrializadas, falsas. De pessoas que não se olham, não se enxergam, não se amam. Pessoas que se consomem. Com somem. Sumam daqui!!! Não me venham com xurumelas dindinrescas. Não me venham com retorno financeiro. Não me venham com você precisa ter isto ou aquilo, ser isto ou aquilo, pensar isto ou aquilo. Não me venham com regras, barreiras de cimento. O camino é cinzento, triste, solitário. O camino real é mais real do que o azul que eu imaginava. Cinzento como os arranha-céus, como a cinza do cigarro, como o asfalto velho, como a conta de luz que chega em casa. Cinza como a tela do computador. Como a falsa-realidade. Como a mídia, o dinheiro e tudo o que o homem criou para se matar. Suicídio coletivo. Auschwitz capitalista. Somos todos judeus perseguidos pelo inimigo invisível. Enclausurados neste way of life fast-food.

texto escrito em 18 de janeiro de 2007.




segunda-feira, 12 de novembro de 2007

SAPA SOLITÁRIA


Flor
Que brota
Em meio ao lamaçal
Brejo de desejos
Afundam a razão
Desespero
Sapos solitários
Emitem sons que nos fazem dormir

Dorme!
Não..consigo.
Quero continuar viva.
Solitária.

domingo, 11 de novembro de 2007


Dia-a-dia


Tem dias que o mundo parece que tá correndo contra.
E tem dias que a gente é contra o mundo.
Tem dias que é tudo confuso e solitário.
E tem dias que a gente quer estar com todo mundo.
Tem dias que a gente corre atrás da luz.
E tem dias que ela brilha dentro da gente.
Tem dias que a gente faz, faz, faz e não sai do lugar.
E tem dias que a gente sai do lugar para fazer.
Tem dias que é tudo tão certo e claro.
E tem dias que ser claro não dá certo.
Tem dias que a gente sabe o que tá fazendo.
E tem dias que a gente tá fazendo sem saber que tá.

Tem dias que a gente pega trânsito, chega atrasado, briga com o síndico e dorme mal.

E tem dias que a gente dança, apenas.

Tem dias que a gente tem fome de tudo.
E tem dias que tudo dá fome.
Tem dias que a gente quer ficar sem fazer nada.
E tem dias que o nada nos leva a fazer.
Tem
dias,
dias
e dias.
E tem dias como hoje:
em que o dia é e é e é e é.
O que é.