segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

o vento no canavial

"Não se vê no canavial
nenhuma planta com nome;
nenhuma planta maria,
planta com nome de homem.
É anônimo o canavial,
sem feições, como a campina;
é como um mar sem navios,
papel em branco de escrita.

É como um grande lençol
sem dobras e sem bainha;
penugem de moça ao sol,
roupa lavada estendida.

Contudo há no canavial
oculta fisionomia:
como em pulso de relógio
há possível melodia,

ou como de um avião,
a paisagem se organiza,
ou há finos desenhos nas
pedras da praça vazia.

Se venta no canavial
estendido sob o sol
seu tecido inanimado
faz-se sensível lençol,

se muda em bandeira viva,
de cor verde sobre verde,
com estrelas verdes que
no verde nascem, se perdem.

Não lembra o canavial
então, as praças vazias:
não tem, como têm as pedras,
disciplina de milícias.

É solta sua simetria:
como a das ondas na areia
ou as ondas da multidão
lutando na praça cheia.

Então, é da praça cheia
que o canavial é a imagem:
vêem-se as mesmas correntes
que se fazem e desfazem,
voragens que se desatam,
redemoinhos iguais,
estrelas iguais àquelas
que o povo na praça faz."

- joão cabral de melo neto -

2 comentários:

Helvio Tamoio disse...

Anninha, SOCORRO!!! Vejo estas estradas no meio de taião de cana me dá um frio na barriga e uns ventos na testa. Dá vontade de vortá pra sum paulo

Helvio Tamoio disse...

Anninha, SOCORRO!!! Vejo estas estradas no meio de taião de cana me dá um frio na barriga e uns ventos na testa. Dá vontade de vortá pra sum paulo