domingo, 18 de maio de 2008

a árvore da vida

O sorriso não era o mesmo. Nem o dele, nem o dela.
Tinha uma lágrima escorrida entre seus óculos.
Falavam de companheirismo e família com a certeza de que isso jamais seria possível existir entre eles. E a impossibilidade de vivenciar isso tornava essa possibilidade mais presente ainda. Eles viviam de ilusões. E era assim que se amavam. No fundo, sentiam ódio um pelo outro. Ódio de si mesmo. Ódio de ver a realidade e perceber que ela era bem diferente daquilo que haviam pensado, chorado e sofrido a distância por tanto tempo. A realidade era muito mais feia e sem graça. Ela sugava todas as forças e os jogavam no lixo. A realidade era que a árvore estava seca e a televisão quebrada. E só uma praga verde resistia no canto do vaso e a garantia da tv perdida em meio às papeladas do dia-a-dia. Eram tantas coisas. Eram tantos e nada.
Tinham a certeza de que aquilo que esquentava seus corações era real. O cheiro era real, o toque, o beijo, o sexo. Era no corpo que eles se encontravam. Lá, as fantasias tornavam-se realidade e eles podiam se amar sem pedir permissão um para o outro. Sem pedir permissão para mudar o sonho que um tinha feito do outro. Na cama os sonhos eram os mesmos. E isso fazia com que eles acreditassem que tudo aquilo era possível. Todo o resto. E eles continuavam regando, dia-a-dia, suas plantas. “Um dia elas brotarão”, pensavam juntos, ou “jogaremos os vasos pela janela”.
Elas ainda não brotaram. E eles continuam sentindo solidão um ao lado do outro. E se tornando cada vez mais parecidos. E temendo. E brigando. E se amando. Como nunca dantes.

3 comentários:

danzim disse...

me lembrou aquele som do antunes... "...perdão pelo coração que eu desenhei em você em nome do meu amor..." bitó.

Anônimo disse...

arnaldo antunes e jorge ben, diga-se, pois...

Fabi M. disse...

Inpiradíssima ein? Beijo