terça-feira, 17 de março de 2009

Sobre a minha peça....

Recebi ontem de um amigo:

“Natureza Morta” revela a vida íntima da Assassina.

Inspirada no quadro “A Assassina” de Edvard Munch (pintor norueguês, 1863- 1944), onde a personagem central está diante do público que a contempla, “Natureza Morta”, texto de Mario Viana, é interpretado por Anna Cecília Junqueira no Espaço dos Sátyros 1, Praça Roosevelt, dirigido por Eric Lenate, ator e diretor vindo do CPT de Antunes Filho.
Essa alquimia artística resultou num potente trabalho cênico. Em seu segundo monólogo (Valsa nº 6 o primeiro, com a Cia. Antikatártika) Anna Cecília demonstra um domínio de sua criativa partitura em cena se lançando fundo no que se propõe. Desde o início de seu breve solo a atriz nos conduz emocionantemente pelas vias do depoimento de sua personagem. A Assassina está diante do cadáver de seu amor e do pintor que recria a cena em sua tela, seu interlocutor e espectador primeiro, e revela os íntimos escaninhos de sua alma, que a levou a cometer esse ato de amor e morte, depondo à platéia sua profunda angústia em continuar.
A vida que levava com seu único amor, razão exclusiva de existir, torna-se pública diante de nossos olhos. Tornamo-nos tão cúmplices da Assassina, mergulhamos tão junto dela (atriz e personagem) que em um suposto júri, deporíamos a fovor da mulher, não contra. É tudo uma surpresa dada. Algum vestígio de sangue? Nas mãos? No punhal? Não? No chão? Assim está bem, como ele queria.
Uma encenação simples, onde tudo é essencial, morada dos signos teatrais potentes. Uma cama com o cadáver, uma mesa com um abajour aceso, com um bolo, alguns pires e uma xícara com água postos sobre ela, algumas banquetas, uma mala, um casaco e um chapéu... Com movimentação muito precisa a atriz nos encanta com seus gestos e sua voz. Nos banha com suas humanas lágrimas. Um quadro vivo que nos atinge como um raio, nos captura sem dar espaço para fuga. Uma inspiração e uma expiração; esse é o tempo mágico desse lindo espetáculo, que nos arremata com sua impressionante forma enxuta de revelar a fragilidade feminina diante do amor e da vida. Agora é continuar, pegar a mala e seguir para o trem que já espera na estação. Bom espetáculo!

Serviço:
Natureza Morta. Espaço dos Satyros Um. (70 lug.).Praça Roosevelt, 214, 3258-6345. 6.ª e sáb., meia-noite. R$ 20. Até 11/4

Por Guilherme Xaviere.
São Paulo, 28 de fevereiro de 2009.

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