quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Bolos e bolos.



A gente andava de olhos atentos e atados entre os fermentos.
Havia uma certa falsa segurança neles. 
Como se o crescimento do bolo fosse garantido por lá.
Era só colocar, em colheres rasas e em doses medidas, que tudo estava certo de seguir como deve ser.

Mas havia dias em que a falta deles na despensa acontecia. 
Dias em que o fermento estava vencido e que, por distração ou vontade, a gente se destilava um ao outro na vontade de colocar algo diferente naquele bolo. De vê-lo crescer, mais do que o normal, mesmo sabendo que depois ele poderia murchar ou até mesmo virar uma grande bola de pedra. De pensar na calda mais que o bolo. De se deliciar nas caldas.
Nesses dias, a cozinha se punha em cores diferentes e a assadeira esquentava mais que o normal.
Havia pó por todo lado e os ovos estouravam ao escapar das mãos. Era uma grande algazarra da culinária. Era uma grande festa de degustação. Não importavam as formas, os tamanhos nem os bolos.
Nos lambuzávamos.
O que estava em jogo era o assar em si. O ato de alquimia.
E esses dias são os que ficavam na memória. Os bolos queimados e desperdiçados.

Já os bolos lindos e formosos, feitos com zelo e fermento, ficavam na estante, de enfeite, esquecidos pelo tempo. Perdiam o sabor. Eram seguros. Fermentados. Enfeitados demais.