terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ilusão ou Realidade?


Sinto cócegas nos dedos, nas mãos, nos braços, no pescoço. Cócegas na garganta. Quero gritar e a imobilidade me rói por dentro.
Outro dia ouvi uma música de infância que dizia que a pequena menina vivia dois mundos diferentes: o de fora, da realidade, e o de dentro, da ilusão. Os meus são como os dela. Se fundem e, quando isto ocorre, me confundem.

O que é realidade?
Acordar cedo, ir para o emprego, confiar na promessa de que “este caminho vai te levar para o sucesso” e na tão esperada carreira?
Ou esta sensibilidade que sentimos quando estamos diante de um abismo de que a vida literalmente está por um fio. E que, se esta corda arrebentar, sua vida já era. Ou melhor, recomeça. Ou termina.
Qual a certeza que temos de estarmos vivos? Qual a certeza que teremos quando estivermos mortos?
Quando eu escrevo, essas certezas incertas se confundem com a ilusão do lado de dentro e se transformam na minha realidade de fora. Na realidade construída a partir da minha ilusão. Ou na minha ilusão fantasiada de realidade. Como as almas penadas que rondam a noite em busca de algum contato com a realidade. Ou a gente que em corpo corpóreo busca contato com o etéreo. Buscas que na realidade não tem significado, mas que confortam as desilusões da alma. Escrever conforta a minha alma. Acalma meu espírito e traz significado para cada fração de existência real.
Cada letra em conjunção com outra se funde em constelação de idéias como o cardume que passa ao lado no rio em busca de alimento. O cardume desliza sobre as algas e desvia das pedras. De olhos atentos e com movimentos precisos. Eu deslizo sobre a folha branca e me desvios dos brancos. Navego com palavras em busca do alto-mar. Das ondas altas, dos perigos da madrugada, dos tubarões famintos que devoram golfinhos. Sou peixe fora d’água em busca da margem do rio contínuo, límpido, fresco.
Sem contaminações. Sem borrões. Folhas repletas de incertezas ilusórias. Páginas cheias de questionamentos. Pontos que se interrogam e se exclamam. Eu me exclamo. E me pergunto:

tudo isso para quê?

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