sábado, 10 de novembro de 2007

mistério das cousas

















Em dias de rio e mato distantes,
e de pensamentos infindos presentes,
encarcerada na cidade de prata e de sol e de chuva,
pego a estrada de terra de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
para lembrar-me de que
o verbo "ser" nada "é"
além dele mesmo:

"O mistério das cousas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das cousas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as cousas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As cousas não tem significação: têm existência.
As cousas são o único sentido oculto das cousas."


(Alberto Caeiro - O guardados de Rebanhos - 1911-1912)

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