sábado, 18 de abril de 2009

Sem eu.

Eu podia morrer
e ninguém sentiria falta.
Chorariam alguns dias,
levariam flores ao cemitério,
rezariam por horas.
Poucas horas. Eles não são tão religiosos.
Depois, passadas a chuva e a seca,
retornariam aos seus computadores, aos games,
a hora da manicuri, ao banco, aos afazeres domésticos e à balada dominical.
As peças continuariam sendo feitas, as pessoas gozando e a cerveja rolando.
Tudo se reencaixaria. E de outra forma. Não sei se melhor, ou pior.
Sei que eu não estaria mais ali.
Não teriam mais soros nem veias.
Nem questionamentos, nem tentativas de deixar tudo bem.
Nem choros.
Não teriam a dança, nem risos, nem excessos de carinho.
Nem a vontade de mudar o mundo e os outros.
Nem os tapetes dobrados e os copos quebrados.
A cozinha estaria sempre limpa, o banheiro intacto.
Os jantares semanais sempre agendados e os apartamentos comprados.
Não haveria perguntas sobre comportamento, nem reflexões sobre o que temos feito de nossas vidas. Não haveria atrasos nem esquecimentos.
Os carros nunca estariam amassados; sempre limpos e consertados.
Tudo entraria em ordem e eu dançaria com os anjos.
Pois deve haver espaço para o caos onde os anjos dançam.
E eu adoro dançar.....

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