quarta-feira, 17 de maio de 2017

Umbilicadas

E quando você virou na cama e eu te abracei por trás eu fingi te dar apoio, mas as lágrimas é que me apoiaram. Era medo de já ser aquilo que se é e de pensar que um dia você é que estará em meu lugar. Engolindo as dores e os vazios para ver se eles saem da frente quando a gente está de frente. Porque ser mãe é também engolir silêncios para enganar dores desnecessárias. Para espantá-las e não deixar que contaminem o umidificador que fica no seu quarto. A verdade é que um dia, que será logo, ainda beberemos vinho discutindo o amor. Ou cerveja, como for. E eu espero que você ame e se apaixone mil vezes. E que tenha histórias para dividir. E que sofra. Pois sofrer faz também viver. Mas sei que a dor virá pra mim também, pois estamos umbilicadas uma na outra. E que vou sofrer como sofro agora e que talvez sofra sua avó. Eu sei que quando meu olho enche você também transborda. Tem grito seu que fala por mim. E dói. E vai doer. A vida é assim, minha filha, esse turbilhão de atropelamentos. E tem batida que demora para sarar. E tem passagens que a gente nem vê atravessar. Mas a gente vai vivendo. E no meio desse silêncio entre eu e você existe um zilhão de borboletas que carregam bolsinhas de amor. Porque é esse amor que faz o fazer por. Por você. Por mim. Por nós.

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