sábado, 6 de maio de 2017

Ofélia das Águas Escuras

E quando ela pisou naquela terra e olhou para as folhas das árvores-viajantes ela sentiu todo seu corpo estremecer. Tinha a nítida sensação de já ter estado lá mesmo sendo sua primeira vez. Retornava a um local de dor e desejava sentar e chorar. Estava frio e o barulho de um violão tocando numa voz maculina fez ela pensar que ela poderia se apaixonar de novo sim. Por um músico, um ator, um estrangeiro ou  um alguém que soubesse viajar com ela. Com ela. Ela poderia. Mas estava com medo de subir as palmeiras ou de abrir a janela e descobrir quem tocava aquela melodia.
Sentou na beira d'água e deixou que os peixes passassem. Nas profundezas da água ela poderia talvez voltar a ser Narizinho e encontrar o Peixe Escamado. Mas as águas estavam escuras demais para se ver os caminhos do Reino. O silêncio do debaixo d'água a fascinava. E ela sentiu um estranho impulso de buscar o seu reflexo. Chegou mais perto da beira, olhou-se  e, de um susto, atirou-se. Estava apavorada demais para se ver. Silenciou-se.

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